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Sunday, September 23, 2007

Lonely Three Friends - Passeio a dois

Domingo de sol, mas o frio do lado de fora e a inércia de Adam e Jorge impossibilitam qualquer ação q não seja pedir um café e sorrir pra garçonete de olhos caribenhos.

- Peraí Adam, explica direito essa história
- Caro Jorge, com calma e nos detalhes, até porque merece. Estava eu na última quinta rodando pelo Pike Market, tentando me acertar na conversão de 200g de presunto por não sei quantos pounds de ham, quando fui abordado por um sujeito deveras simpático. Ele veio dizendo q o presunto da barraca do chinês era melhor q o presunto do tailandês e, como pra mim chinês e tailandês é tudo japonês eu me vi numa conversa meio sem sentido.
- Tá me dizendo q não consegue diferenciar chinês, japonês e tailandês?
- Tô, pra mim são como as bandas EMO, nada contra mas são todas iguais.
- Japonês e chinês até dá, mas tailandês e vietnamita é complicado pacas.
- Bom, independente. O fato é q o cara me chamou pra barraca de presunto do tailandês e na hora eu comecei a achar estranho. Gente boa o cara, mas o cachecol verde limão amarrado no pescoço, e o excesso de gestos me deu a impressão q a idéia dele era acabar com uma tábua de frios e um vinho Bordeux em plena Space Needle.
- Compraste o presunto do china e voltou pra casa?
- Se tivesse feito isso o Ricardo estaria aqui sentado com a gente.
- Hein?
- Dei um pouco de prosseguimento na conversa, comecei a falar sobre o modo frio e "boring" de Seattle, falei q era dificil de se fazer amigos por aqui, e por aí vai. Ele concordou e quis marcar de sair um dia desses. Eu topei na hora, e passei meu nome pro cara, quer dizer, passei o nome e o telefone do Ricardo. A idéia era só dar uma sacaneada no cara, mas como ele não apareceu até agora e o celular tá fora de área, tô achando q rolou.

Horas depois, com o tempo já nublado e a cafeína já bem acima da cota diária, finalmente o foco da conversa aparece. Ricardo entra, pega o Seattle Weekly, pede um expresso duplo, senta, abre o jornal numa página qualquer, e de cabeça baixa resmunga:
- Ninguém merece a noite passada.
- Ok, todo mundo já sabe q ontem rolou um blind date, então conta logo q a gente tá numa angústia absurda
- Como diabos eu ia imaginar? Eu tô saindo do trabalho, pensando em tomar uma cerveja, ligo pra vcs e ninguém responde.
- Eu chapei
- E o meu celular morreu
- Bom, eu tava na pilha de uma cerveja, faltava companhia, daí do nada toca um número estranho no meu telefone. Atendi e era um cara gente boa pacas dizendo q tinha me conhecido numa banca de presunto de um coreano
- Chinês
- Hein?
- A banca era de um chinês
- Foi vc entao fdp?
- Preciso confessar aqui ou já tá meio óbvio? Continua a história meu filho.
- Desgraçado, sabia q tinha um de vcs no meio, mas beleza Não tava entendendo nada e até expliquei q houve algum um engano, mas o fato é q o cara tinha um papo interessante, e como eu topo qualquer coisa pra aumentar minha rede de contatos eu acabei topando. Nos encontramos num bar excelente lá em Capitol Hill, um tal de Cha Cha, uma iluminação meio red light district, bem descontraído. Bebemos durante todo o happy-hour e qd a cerveja subiu de preço a fome já batia. Ele sugeriu irmos jantar na Space Needle, o otário aqui com 4 cervejas na cabeça foi.
- Jantar a dois na Space Needle, nada mal pra um primeiro encontro. Ele pagou a conta?
- Você não tem noção. Sabe aquela história q se sentar na frente de alguém vc fica longe pra um approach e do lado fica muito na cara? Pois então, o cara sentou na minha diagonal com a desculpa de q queria ver melhor a vista. Sentou, pediu uma tábua de frios e um Bordeaux. O cara era gente boa e tudo ia bem até a hora q...
- Ele meteu a mao na sua perna?
- Não, pior! Quer dizer, sei lá se é pior. Tudo ia bem até a hora q a mulher dele apareceu?
- Mulher? O cara era casado?
- Pelo visto sim. Só sei q a mulher chegou dando um escândulo, dizendo q já sabia q ele atirava pros dois lados, q estava tudo acabado entre eles e q ele poderia ficar com o viadinho latino q ele quisesse. Porra! Eu me senti um lixo!! Eu sendo confundido com um viadinho latino em pleno cartão postal de Seattle! Me senti um marido traído pq o cara em nenhum momento falou q era casado. Depois senti meu filme se jogando sem para-quedas lá de cima. Fiquei imaginando o Seattle Times de hoje com a manchete: "Mulher dá flagrante em marido bi na Space Needle"
- E saiu no jornal?
- Comprei o Seattle Times e o PI e graças a Deus parece q a minha imagem só foi abalada lá mesmo.
- E no final das contas? Saiu de lá como?
- A mulher deu um piti, ele tentando se explicar e eu dizendo pra ela q não era nada daquilo q ela estava pensando. Fomos obviamente convidados a se retirar do restaurante, pegamos o elevador de volta e, vou te dizer... a Space Needle é alta pra caralho. Ô elevador demorado aquele. O cara ainda quis me dar uma carona, mas aí eu falei q tava legal e q preferia voltar a pé pra casa pensando na vida. No meio do caminho parei num bar, pedi um Black Label e chorei.
- Chorou?
- Sim, chorei, e não tenho vergonha de dizer. O dia q vc passar por uma situação dessa vc vai entender.
- É... o dia q eu notar uma situação dessa surgindo pode ficar tranquilo, eu passo seu nome e telefone.

Monday, August 27, 2007

Lonely Three Friends - É doce pra tip

Inicio de outono, um período de transição em q as folhas amarelam, o tempo esfria e a chuva se torna uma constante. Independente disso tudo Adam, Jorge e Ricardo continuam estirados no café como nos ultimos 142 finais de semana.

A conversa durante as últimas duas horas seguia mantendo um ciclo vicioso: aquecimento global, globo ecologia, programas falidos, atrizes falidas, atrizes falidas e velhas, atrizes falidas velhas mas ainda gostosas, atrizes falidas porem não tao velhas e portanto mais gostosas, carla camurati, claudia ohana, mata atlantica, aquecimento global, globo ecologia... Foi preciso q a nova garçonete do café aparecesse oferecendo seus serviços para q o foco fosse trocado.

A menina se aproxima com uma desenvoltura de fazer inveja à qualquer Fernanda Lima, cabelos tingidos de vermelho, dois piercings cruzando sua face maquiada do número exato de sardas e olhos q remetem as águas do Caribe. A conversa para, ela pergunta se estão todos bem, e a resposta é simultânea:
- ahhãããããã
Ela sorri e vai embora deixando um sorriso no ar e uma esperança no coração dos meninos.
- PUTA QUE O PARIU!
- CARALHO!
- VÁ-TE À MERDA!
- De verdade, onde é q eu acho uma garçonete dessas lá pra casa?
- Acho q vou abrir um bar só pra poder anunciar nos classificados: "Procura-se garçonetes de boa aparência, favor enviar currículo com foto de corpo inteiro" Sabe como é né, aqui tem várias bonitinhas de cara e péssimas de corpo.
- Essa merece 25% de gorjeta no mínimo!

Adam resolve dar uma do contra:
- Calma lá! Dar mais gorjeta porque a garota é uma gracinha?
- Lógico! A gente dá gorjeta pra quem merece, ela não fez nada demais, mas só o fato de chegar aqui mais perto já vale o bônus. Se vier de novo periga eu subir pra 30%
- Adam, na boa. A garota veio aqui, animou o nosso dia e vc tá dizendo q ela nao fez nada?
- Os senhores poderiam fazer o favor de pensar com a cabeça certa! Ela sabe do potencial q tem, sabe muito bem q basta se reclinar um pouco e olhar nos nossos olhos q a gente fica em estado de choque. Ela tá é apelando pra conseguir gorjeta.

- Caceta Adam, vc tem problema, ontem na boate foi a mesma coisa. A garçonete, linda, chegou pra vc, disse q lhe daria um drinque se vc dançasse com as gordinhas q estavam atras de vc, vc dançou, ela lhe trouxe a tequila mais cara da casa, lhe mandou um beijo e vc virou pra gente e disse q ela tava se aproveitando de vc atras de uma gorjeta maior
- E aquela vez q a menina ajoelhou do seu lado, disse q o prato q vc tinha escolhido era uma delícia e ainda disse q a receita que tinha em casa era pra duas pessoas!
- Senhores... não adianta... simplesmente eu não acredito em garçonetes.

- Vc é doido, fica aí sempre reclamando q não tem mulher, q sao todas umas falsas, q ninguém presta e tal. E daí porra? Foda-se q ela tá se aproveitando de vc, deixa a ética de lado e faça o mesmo?
- É por aí mesmo, vc de nós três é o único q não pode reclamar, as mulheres estão sempre no seu pé e vc tá sempre dizendo q não prestam, q não valia a pena, q isso ou q aquilo. Porra, vá te a merda!! Eu vou dar 50% de gorjeta pra garota pq hoje é a única coisa q tá valendo a pena nesse café.

Com o nível da conversa pesado eles pediram a conta e, com o mesmo andar malemolente ela veio, reclinou, falou um thank you very much de biquinho e saiu dando uma piscada de olho enquanto soltava um see you next time. Abriram a conta e o total vinha acompanhado de coraçõeszinhos.

Adam não deu trégua:
- Tá vendo, depois diz q dá pra confiar em garçonete. Vcs ficam aí com cara de tacho todos apaixonados enquanto ela manda coraçãozinho pra todos os clientes desse café. Será q vcs não percebem q isso tudo é só papo de vendedor! Vcs por um acaso conhecem algum casal de namorados q começou assim? Não rola, é tudo armação da garota pra conseguir uns trocados a mais. Puramente doce pra tip.
- Adam, meu caro, eu não estou aqui falando q esta garçonete está dando mole pra gente, as outras duas citadas anteriormente estavam, mas sua incompetência fica pra outra história. Só estou falando q ela deixou o meu dia mais bonito, eu por um momento vi um pedacinho de céu azul no meio de tanta nuvem cinza e poderia ser ainda melhor se vc nao ficasse aí dando piti e quase chamando a coitada da garota de prostituta de balcão.
- É Adam, pega leve, vc deve tá meio bolado com sua total falta de atitude com a menina de ontem e resolveu descontar nesse pobre anjo inocente.

Ricardo assinou seu cartão de crédito o decorando com várias estrelinhas. Jorge seguiu o mesmo exemplo desenhando corações seguidos de carinhas felizes. Adam relembrou a conversa q estavam tendo antes da intromissão da garçonete, saiu comentando a cena em q a Regina Casé corre nua em volta da piscina, enquanto q em sua conta os 15% padrões se misturavam com clássicos caralhinhos voadores. Antes ela fosse contínua.

Thursday, May 17, 2007

Lonely Three Friends 2.0

Adam já tava na fila pro segundo mocca quando Jorge chegou com seu laptop debaixo do braço, se ajeitou na mesa, abriu o bicho e enquanto rolava o boot pediu pra Adam fazer o serviço de garçom trazendo um café com canela.

- Andei aqui pensando e cheguei a conclusão q a internet realmente é uma arma poderosa q a gente não faz uso como deveria. Pensa só a quantidade de gente q tá online disposta a conhecer gente. Da só uma olhada em volta, de cada 10 mesas pelo menos 7 tem um laptop.
Ricardo meio q sem paciência desse papo cibernético só avisou q é bem mais fácil chamar pra conversar qualquer uma das 7 mesas, do q achá-las na internet.
- Isso é óbvio, mas a questão é pq se restringir a esse café se temos o mundo a disposição? A gente aqui travado no café reclamando q nao conhece ninguém e a resposta tá na nossa cara. Vou criar profile em tudo q é site, dar uma ajeitada nas fotos do Orkut, endireitar meu MySpace, me descrever no Match.com, criar um avatar no Second Life, publicar umas fotos no Flickr, fazer uma senhora seleção musical no Last.fm, me anunciar no eBay e o q mais aparecer pela frente.

Ricardo vendo q Jorge pelo menos se sentia feliz por se achar o mais inteligente da mesa deixou o cara em paz. Adam voltou à mesa, e lá ficaram até o fim do café, o papo q já não tava evoluindo se tornou mais complicado quando um deles se relacionava mais com o computador do q com o mundo à sua volta.

Ao fim do café Adam e Ricardo levantaram e foram embora. Minutos depois, duas lindas morenas de olhos azuis passaram pela mesa e perguntaram se as cadeiras estavam vagas. Jorge disse q estavam e q podiam pegar, tudo isso sem tirar os olhos de seu mais novo elfo no World of Warcraft.

Friday, May 11, 2007

Lonely Three Friends

Sentados nas poltronas de um café perto de casa, 3 amigos vislumbram no meio daquele asfasto cinza, calçada cinza, e céu cinza de Seattle uma mulher com seus aparentes 30 anos cruzar a rua, se aproximar da lata de lixo, abrir a bolsa e jogar tudo fora, no caso... lixo.

- Alguém consegue me explicar qual o motivo disso?
- Registra isso pelo amor de Deus q meu celular tá com a memória cheia!
- Relaxa, a gente sempre vem aqui, mas dia menos dia ela volta e a gente registra com cuidado.

Adam, Jorge e Ricardo eram meio q assim, praticamente todo santo dia passavam no café, sentavam nas poltronas, abriam um jornal, olhavam pra janela, e ali ficavam. Se eram felizes assim? Nem um pouco, mas acreditavam piamente q aquele café poderia lhes trazer algum benefício um dia. Mais precisamente acreditavam q um dia uma loira peituda ou uma morena bunduna apareceria na poltrona ao lado, se interessaria pela lingua estranha q falavam e os convidariam para seu apartamento há 2 quadras dali. Há uns meses atrás Adam, Jorge e Ricardo fizeram a conta e descobriram q esperavam por esse momento há 1 ano, 3 meses e 19 dias.

Ficavam lá, inventando teorias conspiratórias sobre o porque da vida deles simplesmente não andar como imaginavam, no intervalo do assunto na maioria das vezes levantavam da poltrona e compravam um café.

- De verdade, o q faz uma mulher guardar lixo na bolsa desse jeito?
- Não ter sacos de lixo é uma opcao
- Não faço idéia mas dá pra descobrir fácil!

Ricardo largou seu café na metade e saiu voando na direção da mulher antes q ela tirasse a última lata de alumínio amassada de sua bolsa. Saindo do café diminuiu o ritmo em direção a mulher, chegou devagar e perguntou com toda a calma do mundo:

- Vc pode me informar q horas são?

Ela esvaziou os pedaços de chocolates velhos, os sacos de cheetos vazios, as ultimas gimbas de cigarro malrboro e respondeu:

- Joguei meu relógio fora na quarta passsada
- Mas vc tem pelo menos um minuto? A verdade é q eu não estou interessado na hora, mas queria muito saber o q vc está fazendo guardando esse lixo na bolsa.
- Posso saber porque?
- Porque o q?
- Porque vc quer saber sobre o q guardo na bolsa e sobre o q jogo no lixo?
- Não, nada disso... foi só porque eu achei estranho alguém do nada parar no meio da rua, abrir a bolsa e começar a tirar um monte de lixo. Não quero saber o q vc está jogando fora, apesar de já ter visto uma meia dúzia de absorventes usados, só achei estranho e, em vez de ficar corroendo a minha cabeça sobre o porque disso, vim direto perguntar à fonte.
- Estranho é vc q sai larga seu café com seus amigos e vem pertubar uma desconhecida fazendo perguntas sem o menor propósito. Com licença mas eu tenho mais o q fazer.

A mulher deu uma última batinha tirando o restante das cascas de ovo, fechou a bolsa, virou as costas e foi embora. Ricardo voltou ao seu ponto de partida, no café e sem entender nada.

- Qual é? Eu pelo menos tentei conhecer alguém, um dia eu acerto, melhor do q ficar aí despencado na poltrona.
- Vc tem toda razão. Eu se fosse vc aproveitava e ia lá puxar assunto com aquele sujeito q tá segurando uma placa alegando q teve o pai morto por ninjas.

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PS: Todos os personagens são fictícios exceto a mulher do lixo e o sujeito da placa