Sunday, September 30, 2007

First Year

Sim. Hoje fez um ano q estou aqui.
Passa rápido né? Quando vê já foi.
E? Não sei, talvez comece a pensar nisso daqui a pouco.

Arctic Monkeys

E de novo os macacos do ártico destruíram tudo q tinha pela frente. Dentro do Paramount tocaram todas as músicas dos dois álbuns e ainda meteram uma nova. O público fugiu do padrão dançando e cantando como loucos.
Cheguei à conclusão q a nova geração de Seattle é consideravelmente mais animada do q a geração atual. Não é a primeira vez q a turma nova dá de dez nos idosos de 30. Só espero q não sofram de envelhecimento precoce.

O vídeo são 10 minutos frenéticos. Still Take You Home, Fake Tales of San Francisco, Fluorescent Adoledscent, e A Certain Romance, tudo aí a um clique de distância.

Friday, September 28, 2007

Arcade Fire

Não tem muito o q falar.
Gossip abriu e por mais q a Beth Ditto se esgoelasse, nao conseguiu levantar a platéia fria de Seattle.
Lcd Soundsystem veio logo em seguida, pegou um publico maior, mas a acústica terrível do Bank of America Arena piorou bastante a apresentação.
Finalmente apareceu o Arcade Fire, e mostrou novamente que é um absurdo no palco. Meu comentário é o mesmo q eu fiz nos tempos do Coachella: "Primeiro lançam um CD excelente, depois lançam um outro CD melhor q o primeiro, depois me manda um show desse na cara... isso é sacanagem pra qq mortal."

O vídeo tenta mas nao chega nem perto


PS: O show do Gossip começou 15 minutos antes, venderam em pé e colocaram mais da metade sentado, não tinha cerveja à venda, etc. Enfim, tudo na mais absoluta normalidade tosca da América.

Wednesday, September 26, 2007

Wii!!

Depois de sumir das prateleiras por quase um ano e ser até roubado pelo correio, finalmente o bichinho deu o ar das graças lá em casa.

Mii
Meu Mii do Wii

ps: coincidencia ou não ele chegou no mesmo dia q o Master Chief invadia a casa de todo mundo

Sunday, September 23, 2007

Lonely Three Friends - Passeio a dois

Domingo de sol, mas o frio do lado de fora e a inércia de Adam e Jorge impossibilitam qualquer ação q não seja pedir um café e sorrir pra garçonete de olhos caribenhos.

- Peraí Adam, explica direito essa história
- Caro Jorge, com calma e nos detalhes, até porque merece. Estava eu na última quinta rodando pelo Pike Market, tentando me acertar na conversão de 200g de presunto por não sei quantos pounds de ham, quando fui abordado por um sujeito deveras simpático. Ele veio dizendo q o presunto da barraca do chinês era melhor q o presunto do tailandês e, como pra mim chinês e tailandês é tudo japonês eu me vi numa conversa meio sem sentido.
- Tá me dizendo q não consegue diferenciar chinês, japonês e tailandês?
- Tô, pra mim são como as bandas EMO, nada contra mas são todas iguais.
- Japonês e chinês até dá, mas tailandês e vietnamita é complicado pacas.
- Bom, independente. O fato é q o cara me chamou pra barraca de presunto do tailandês e na hora eu comecei a achar estranho. Gente boa o cara, mas o cachecol verde limão amarrado no pescoço, e o excesso de gestos me deu a impressão q a idéia dele era acabar com uma tábua de frios e um vinho Bordeux em plena Space Needle.
- Compraste o presunto do china e voltou pra casa?
- Se tivesse feito isso o Ricardo estaria aqui sentado com a gente.
- Hein?
- Dei um pouco de prosseguimento na conversa, comecei a falar sobre o modo frio e "boring" de Seattle, falei q era dificil de se fazer amigos por aqui, e por aí vai. Ele concordou e quis marcar de sair um dia desses. Eu topei na hora, e passei meu nome pro cara, quer dizer, passei o nome e o telefone do Ricardo. A idéia era só dar uma sacaneada no cara, mas como ele não apareceu até agora e o celular tá fora de área, tô achando q rolou.

Horas depois, com o tempo já nublado e a cafeína já bem acima da cota diária, finalmente o foco da conversa aparece. Ricardo entra, pega o Seattle Weekly, pede um expresso duplo, senta, abre o jornal numa página qualquer, e de cabeça baixa resmunga:
- Ninguém merece a noite passada.
- Ok, todo mundo já sabe q ontem rolou um blind date, então conta logo q a gente tá numa angústia absurda
- Como diabos eu ia imaginar? Eu tô saindo do trabalho, pensando em tomar uma cerveja, ligo pra vcs e ninguém responde.
- Eu chapei
- E o meu celular morreu
- Bom, eu tava na pilha de uma cerveja, faltava companhia, daí do nada toca um número estranho no meu telefone. Atendi e era um cara gente boa pacas dizendo q tinha me conhecido numa banca de presunto de um coreano
- Chinês
- Hein?
- A banca era de um chinês
- Foi vc entao fdp?
- Preciso confessar aqui ou já tá meio óbvio? Continua a história meu filho.
- Desgraçado, sabia q tinha um de vcs no meio, mas beleza Não tava entendendo nada e até expliquei q houve algum um engano, mas o fato é q o cara tinha um papo interessante, e como eu topo qualquer coisa pra aumentar minha rede de contatos eu acabei topando. Nos encontramos num bar excelente lá em Capitol Hill, um tal de Cha Cha, uma iluminação meio red light district, bem descontraído. Bebemos durante todo o happy-hour e qd a cerveja subiu de preço a fome já batia. Ele sugeriu irmos jantar na Space Needle, o otário aqui com 4 cervejas na cabeça foi.
- Jantar a dois na Space Needle, nada mal pra um primeiro encontro. Ele pagou a conta?
- Você não tem noção. Sabe aquela história q se sentar na frente de alguém vc fica longe pra um approach e do lado fica muito na cara? Pois então, o cara sentou na minha diagonal com a desculpa de q queria ver melhor a vista. Sentou, pediu uma tábua de frios e um Bordeaux. O cara era gente boa e tudo ia bem até a hora q...
- Ele meteu a mao na sua perna?
- Não, pior! Quer dizer, sei lá se é pior. Tudo ia bem até a hora q a mulher dele apareceu?
- Mulher? O cara era casado?
- Pelo visto sim. Só sei q a mulher chegou dando um escândulo, dizendo q já sabia q ele atirava pros dois lados, q estava tudo acabado entre eles e q ele poderia ficar com o viadinho latino q ele quisesse. Porra! Eu me senti um lixo!! Eu sendo confundido com um viadinho latino em pleno cartão postal de Seattle! Me senti um marido traído pq o cara em nenhum momento falou q era casado. Depois senti meu filme se jogando sem para-quedas lá de cima. Fiquei imaginando o Seattle Times de hoje com a manchete: "Mulher dá flagrante em marido bi na Space Needle"
- E saiu no jornal?
- Comprei o Seattle Times e o PI e graças a Deus parece q a minha imagem só foi abalada lá mesmo.
- E no final das contas? Saiu de lá como?
- A mulher deu um piti, ele tentando se explicar e eu dizendo pra ela q não era nada daquilo q ela estava pensando. Fomos obviamente convidados a se retirar do restaurante, pegamos o elevador de volta e, vou te dizer... a Space Needle é alta pra caralho. Ô elevador demorado aquele. O cara ainda quis me dar uma carona, mas aí eu falei q tava legal e q preferia voltar a pé pra casa pensando na vida. No meio do caminho parei num bar, pedi um Black Label e chorei.
- Chorou?
- Sim, chorei, e não tenho vergonha de dizer. O dia q vc passar por uma situação dessa vc vai entender.
- É... o dia q eu notar uma situação dessa surgindo pode ficar tranquilo, eu passo seu nome e telefone.

Tuesday, September 18, 2007

Alienado

Todo esse tempo longe do Brasil está definitivamente me fazendo mal. Eu q sempre fui uma pessoa com um pé ligado na cultura estou percebendo q cada dia eu fico mais alienado.

Eu até consigo acompanhar alguns fatos do q anda rolando pelo Brasil, eu sei por exemplo a escalação do Tim Festival, q o Los Hermanos acabou e q a Sandy vai ficar sem o Junior, q o Tropa de Elite vazou e todo mundo viu, q o Festival do Rio vem aí, enfim, eu consigo acompanhar um bom pedaço... meu problema mesmo são as notícias do dia a dia.

Imagina minha desolação ao me tocar q eu não faço a menor idéia de quem diabos matou a Taís!

PS: Vc não sabe quem é Taís? puts, tá pior q eu.
PS2: Cadê a Malu Mader? Onde já se viu novela do Gilberto Braga sem a Malu!

Saturday, September 15, 2007

Era uma vez um pão de forma e um pote de provolone...

O pão sempre viveu cercado de fatias e talvez por só conviver com pães como ele ficou meio avesso a novos amigos, quando muito se misturava com geléias e cream cheeses, o problema é q logo após disso acabava digerido pelo maléfico estômago.

O pote de provolone por outro lado era mais chegado a se espalhar por aí, com seu formato cilíndrico, alto e de tampa verde perfurada chamava atenção por onde passava. Comprado em tamanho família por um sujeito q morava sozinho era sem dúvida o veterano da geladeira.

E todo final de semana é quase sempre a mesma coisa, pote e pão se espremem dando espaço às convidadas. Aquelas cervejas long neck são como turistas japonesas, sempre chegam em packs de 6 ou 12, se amontoam na geladeira, às vezes fazem uma visita relâmpago ao congelador e em poucas horas se despedem, dando antes uma passadinha pelo banheiro. Aquele corpo esbelto com rótulo gracioso não esconde seu sabor amargo e perigoso, desvirtuam a mente de seus clientes e sempre deixam um gosto de nunca mais no day after. Elas sabem q são apenas uma diversao barata e de fácil degustação. Vinicius costumava dizer q o uisque é o cachorro na garrafa, eu diria q as cervejas nada mais são que camélias engarrafadas.

Na foto o pão de forma se sentindo coagido enquanto o pote de provolone anda feliz da vida com suas amizades descartáveis.

PS: Quem deu a idéia foi a Sil

Thursday, September 13, 2007

day-off

Cheguei a conclusão q o trabalho é inversamente proporcional às atualizações desse espaço, ou seja, isso aqui tende a ficar vazio se eu começo a trabalhar demais.

Como prioridade é tudo nessa vida, amanhã ficarei em casa.

Saturday, September 8, 2007

Marketing agressivo


"Pau pra toda obra"
"Entretenimento puro"
"Realidade nua e crua"
"Essa rede tem culhão"
"Mostrando a realidade por mais dura q ela seja"
"Se enfiando nos buracos em busca das melhores notícias"

Wednesday, September 5, 2007

Labirintos da vida

Tudo começou quando eu era criança, mimado q sou, meu pediátra vinha à minha casa resolver meus problemas infantis (catapora, coqueluche e viadagens em geral). Fui crescendo e os antigos hábitos apenas se fortaleceram. O fato dele ter 103 anos, ter dado aulas pra sua mãe e ter um prédio da UFRJ com seu nome me dava confiança, ao invés da idéia correta de q se ter o mesmo pediatra por mais de 20 anos é a mesma coisa q ter aos 30 uma Monark aro 16 com rodinhas.

Um dia eu me fudi. Mas me fudi mesmo. Na verdade só me fudia à noite. Durante mais de uma semana eu acordava fudido no meio da noite. Toda noite era assim... fudido. Por sorte naquela época eu dormia sozinho, o q me dava a certeza q era um problema de saúde e nao um problema de pregas.

Procurei meu pediátra, ele deu uma opiniao vaga e pediu uns exames, nada. Fui ao ortopedista da família, ele pediu uns exames, nada. Não lembro ao certo, mas ao todo fui à oito médicos de especialidades diferentes. Do pediátra ao gastro todos pediram exames, nada. O urologista ainda me mandou a sábia pérola ao saber q eu tinha um pediátra: "Vc já tá na idade de arranjar um médico de gente grande." Eu melhorei, o q era? Ninguém sabe ao certo, mas provavelmente era algo entre uma virose (pediatra) e falta de fibras no organismo (gastro).

Os anos se passaram, eu me mudei pra Seattle, ainda durmo sozinho e apesar de hoje em dia encher a cara regularmente, tenho total noção q nunca acordei fudido.

E assim acabaria a história, se nao fosse um gancho típico daquelas continuações de filmes caça-níquel americano voltados para a juventude retardada comedora de M&M.

- Q tal se a dor voltasse?
- Muito óbvio

- Poderiamos matar o pediatra?
- Provavelmente ele já está sob a ajuda de aparelhos

- Vamos dizer q o plano de saúde nao cobriu os 8 médicos?
- Ninguém se interessa por histórias dramáticas

- Inventamos um rockstar brocha e o colocamos na história sem mais nem menos!
- EXCELENTE IDEIA!!

Assim, por força de um roteiro non sense do destino, Joao Brasil foi acrescentado a minha vida.

Eu q já andava perdido pelo mundo e sempre buscando referências musicais aqui e ali descobri o novo rei do pop, com clássicos instantâneos fui fisgado pela sua irreverência e acabei distribuindo links de seu myspace pelas ruas em q passava.

Numa dessas audições públicas minha mãe em visita à Seattle ouviu, riu, digeriu e assimilou o nome da criança. Meses depois durante uma visita à casa de amigas, enquanto batia papo, tomava um chá e falava as mais baixas putarias (típico de uma conversa entre mulheres), não só o nome de João Brasil veio a público, como o nome de seu pai o acompanhou. Seu pai, calhava assim de ser o mesmo urologista q me atendeu anos atrás enquanto eu acordava fudido toda noite.

Uma sensação horrível me corrói desde então. João Brasil, q até entao para mim era um ser inatingível, um rei do pop visto apenas através das janelas da MTV. Se tornou de uma hora pra outra algo tao real, mas tao real q até seu pai já viu minha pica! E se não fosse o bastante, ainda tenho q conviver com a idéia de q nossos pais se conhecem intimamente, afinal, meu pai é seu cliente há anos (sem trocadilho por favor).

Monday, September 3, 2007

Bumbershoot Festival

Voltando pros posts de cunho cultural sobre música estranha pra maioria e de bom gosto pros informados, esse final de semana tava rolando há 3 quadras da minha casa o Bumbershoot Music Festival. O Flickr tem umas 50 fotos, o YouTube tem vários vídeos e logo aqui debaixo tem os mais interessantes.

The Shins mandando um Floyd


Pharmacy mandando um Beatles


Devendra Benhart


o roteiro básico do festival foi:
Sabado:
- The Shins: bem bom, mas é calminho demais pra festival
- The Lashes: vale a pena ouvir, e o vocalista é sensacional
- The Pharmacy: abrindo o show com Eleanor Rigby foi sem dúvida o melhor momento, mas é legal vai.
- Gogol Bordello: FODA, melhor show do festival, os caras conseguiram finalmente descruzar o braço do povo de Seattle, e um bis interminável... graças a Deus.

Domingo:
- Kings of Leon: mostraram q o show do Coachella foi excessão, eles realmente (apesar de serem excelentes) nao seguram a onda no palco
- Apples in Stereo: música pra deixar as pessoas felizes, mas nem assim o povinho de Seattle tirou o pé do chão.
- Art Brut: um exemplo de presença de palco. perdeu pro Gogol por pouco, muito pouco
- Andrew Bird: é bom, mas pra ouvir em casa, no show eu saí antes da metade
- Devendra Benhart: começou devagar mas depois engrenou e acabou muitissimo bem.

Segunda:
- Nada demais na programação, fiquei aqui uploadiando tudo

O dia só acaba quando a noite termina

Sol na cidade // Festival de música durante todo o dia // Dj tocando um funk atrás do outro e sendo expulso por nao desligar o som // After-hours a fantasia
Seattle tem um certo potencial ainda pouco explorado

Sunday, September 2, 2007

Um dia como outro qualquer

O texto abaixo nao é meu, mas acho q é fácil saber quem me mandou.
Teve gente aqui em casa q achou melhor deixar quieto pra não se expor, mas eu liguei o foda-se e taquei no ventilador.

"
Quarto já não tão escuro. Celular apitando. É o que significa: hora de acordar. Rodrigo sabe muito bem disso, mas vale a pena enrolar um pouco debaixo da coberta. Não só por causa do frio de Seattle, mas por causa do barulho da chuva fina que caía naquela manhã. Dá uns dez minutos na cama, pensa no dia que terá pela frente, no outro que se passou e resolve levantar. Com o pé direito. Não que ele fosse supersticioso, mas mal não iria fazer.

Hermann também acorda. Só que antes de abrir os olhos, torce com vontade para que seja sexta-feira. Sempre faz isso, religiosamente, e se acha o cara mais sortudo do mundo quando funciona. No entanto, infelizmente, aquele não era um desses dias abençoados e ele se vê obrigado a levantar. Trabalho. Aquilo que dizem enobrecer o homem. Dizem... Hermann jura que ainda consegue provar para a humanidade que outras coisas podem ser muito mais divertidas e terem o mesmo efeito.

Rodrigo faz tudo com calma, antes de sair. Toma um café da manhã caprichado, lê algumas notícias na internet e ainda manda um breve e-mail pessoal. Checa se tem alguma conta para pagar, pega os papéis em cima da mesa e se veste. Escolhe uma blusa branca, sem muitos detalhes, mas bonita por ser simples. Pega a carteira, a chave do carro e parte para a Microsoft, onde trabalha.

Hermann se arrasta pela casa, com uma preguiça que só ele sabe. Banho de manhã? Nem pensar! Nada de tirá-lo daquele estado de inércia prazeroso. Toma um copo de leite, só pra não dizer que não comeu nada de manhã. Escolhe uma blusa colorida, coloca seu relógio vermelho, pega o Ipod, chave do carro e sai de casa. Opa! A carteira! Dá um desconto, vai... O dia ainda nem amanheceu.

Carro, trânsito, trajeto. No som: nada. Os pensamentos de Rodrigo estão tão altos que ele nem repara a falta de música. Trabalho, velhos amigos, novos amigos, decisões, EUA, Brasil...

Carro, trânsito, trajeto. No som e bem alto: “Favourite Worst Nightmare”, CD dos Arctic Monkeys. Aliás, está chegando o dia do show deles!

Rodrigo entra na sala com um “bom dia” para o chinês que já digitava freneticamente. Não em chinês, lógico. O inglês pode quebrar o galho nessas horas para que o mínimo de diálogo seja estabelecido entre colegas de trabalho. Quer dizer, em outros casos o resultado costuma ser melhor. O chinês não é muito de papo e o assunto morre logo após o “bom dia”. Como vê que dali nada vai sair, resolve ligar o computador para ler os e-mails do dia. Fato: terão várias reuniões marcadas, algumas atualizações que ele precisa acompanhar e dados importantes a serem conferidos.

Hermann mal chega à sua sala e se joga na cadeira. Em um primeiro movimento, vai para a frente e encosta a cabeça na mesa. Fica por um tempo em silêncio, embora o pensamento não pare: “Que raios estou fazendo aqui? Neste país e nesta sala!”. Já em um segundo momento, aproveita a mobilidade da cadeira e se joga pra trás. Novamente silêncio. Dá então um suspiro comprido e resolve levantar para pegar uma coca. Chega de sono! Hora de acordar. Veja bem, coca-cola, não café. Para despertar, é melhor apostar em um produto que os americanos sabem, realmente, fazer. Café, com certeza, é que não é.

Trabalho, computador, bug, computador, trabalho, bug, computador, trabalho...

MSN, trabalho, MSN, trabalho, MSN, música, MSN, música, MSN, MSN,... bug, bug, BUG! É melhor dar uma volta pela empresa para espairecer e clarear as idéias. Nesse meio tempo, passa pela porta da sala de Rodrigo. Pára um pouco, estica o olho e vê o cara resolvendo todos os pepinos que aparecem. “Que empolgação! Será que um dia eu fico assim?”. Fica ali um tempo sem ser notado admirando um trabalho bem feito e depois sai para pegar outra coca.

Rodrigo almoça sempre em um lugar perto da Microsoft. Sabe como é, não dá pra perder tempo comendo com tanto trabalho o esperando. Além do mais, é por isso que está longe do Brasil e das pessoas que gosta. Opções escolhidas na vida... Ele não esquece seu país, muito pelo contrário. Morre de saudades! Não há um dia que não pense nisso. Ainda mais por conta dos amigos. Nos EUA não encontrou ninguém como a galera do Rio. Ah! Mas não dá para ficar comparando. Ele tinha que parar com essa mania. Se ele pretende ter sua independência e levar uma vida mais segura, podendo parar em um sinal de trânsito tranquilamente, por exemplo, precisa abrir mão de certas coisas. No Rio de Janeiro não dá para ser assim... Prioridades.

Hermann custa a sair para comer. Espera por um, espera por outro e só se dá por satisfeito quando consegue arrumar um grupo de amigos considerável para almoçar. Enrola, conversa, ri das histórias dos outros, conta as suas e se esquece da hora. Até que um dos caras lembra: “Vem cá, não é hoje que começa, na internet, a venda de ingressos para aquele show?”. Putz... Hora de voltar para o trabalho. E rápido!

Rodrigo volta para o trabalho, mas na fila para pagar sua refeição repara em um grupo animado que ainda almoça. Reconhece Hermann, um brasileiro que fica perto de sua sala na Microsoft. “Tem horas que eu queria relaxar dessa forma. Esse cara é feliz aqui. Sempre saindo, sempre inventando alguma moda. Taí! Será que um dia eu fico assim?”. Pensamento interrompido pela moça do caixa. “What can I do for you?”.

Antes de comprar o ingresso para o tal show, Hermann manda e-mail para todos na MS! “Quem anima me acompanhar nessa?”. Aí começa aquele processo de sempre. Mostrar quem são os caras da banda, o que eles tocam, por que vale a pena assistir o show... Ufa! Consegue, pelo menos, três perdidos empolgados. Missão cumprida! Hora de comprar os ingressos. “Ixi... bug!! Ah, ele que espere um pouquinho”. Compra feita.

Rodrigo sai tarde do trabalho. Dia movimentado, cheio de reuniões e problemas. Só que antes de ir para casa precisa passar no supermercado. Vai fazer aquela janta para ele. Está ficando craque na cozinha com essa coisa de morar sozinho. E até gosta desse momento Olivier Anquier.

Hermann sai tarde do trabalho. Resolveu fazer uma hora para ir direto para o cinema. Está passando um filme que há tempos está querendo ver. Enquanto isso, conversa no MSN com algumas pessoas que estão no Brasil. Às vezes até pede pra alguém ligar para que possa ouvir a voz e assim ficar mais próximo daquele povo. Voz é outra coisa, né? Dá até para esquecer por alguns minutos que ele está nos Estados Unidos. Caraca! Hora da sessão! Go GO GO.

Rodrigo sai com tantos papéis na mão que nem olha por onde anda.

Hermann sai tão voado que nem olha por onde anda.

E nesse ritmo, Hermann acaba esbarrando em Rodrigo. Vai entender essas coincidências da vida... Talvez os dois precisassem se encontrar... Enfim, papel por todos os lados!

“Desculpa, desculpa”, diz Hermann. “Esse negócio de sair atrasado dá nisso”.

“Relaxa, cara... Essas coisas acontecem...”, diz Rodrigo até rindo um pouco da situação.

Os dois saem catando a papelada no chão.

“Aliás, eu to indo ao cinema! Não anima, não? Dizem que esse filme é bom demais!”.

“Cinema é uma boa! Mas cara, agora complica... Ainda vou fazer compra no supermercado. Vou aproveitar que agora é mais tranqüilo”.

“Ai, nem me fale... Eu só tô enrolando pra fazer isso! Não quer fazer a compra pra mim também, não?“.

“Só se você vir o filme por mim!”.

“Fechado!”.

E os dois morrem de rir.

“Bom, tenho que ir. O filme já está pra começar”, afirma Hermann já se despedindo.

“Vai na boa, cara! Um dia a gente ainda combina de sair juntos pra tomar uma cerveja!”.

“Eita! Você gosta? Impressionante!”

“A vida não é só feita de trabalho... Eu tenho essa noção”.

“É... Na verdade, ninguém sabe, realmente, o que se passa dentro da gente, né?”, afirma Hermann.

“Ô!”

“A conversa tá boa, mas agora vou! Bom falar contigo”.

“Eu digo o mesmo! Quando for passear pela Microsoft, vê se passa lá na sala. Eu posso parar pra gente conversar um pouco”.

“Um pouco, né?”, e sorri.

“Já é alguma coisa!!”, e retribui o sorriso.

“Até mais então, Rodrigo!”.

“Falô Hermann!”.

E cada um vai para um lado. Rodrigo ainda olha pra trás e pensa “Gente boa esse cara”.

Hermann ainda corre pra não perder a sessão, mas promete pra si mesmo “Vou passar ainda na sala desse cara”.

Vida que segue...
"